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Série Piavoré: Francisco Lucas de Barros utilizava da mão de obra escrava nos seringais

Além dele, os grandes coronéis no período do Brasil República se utilizavam dessa prática para manter em alta os grandes engenhos e a extração da borracha nos seringais do norte do Mato Grosso
Por Ascom Prefeitura/Oliveira Neto
25/10/2022 16:08

Engenho de cana no século XIX.(Foto: Wikipédia)


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A Lei Áurea (3.353/1888), pela qual obrigava a libertação de escravos, já havia sido promulgada, mesmo assim, no interior das matas e nos engenhos, pouco se observava a legalidade. 

Uma história que comprova essa ação foi registrada em 28 de fevereiro de 1918, em Cuiabá. O trabalhador Eduardo Capistrano da Rosa procurou a Justiça em busca de seus direitos. Ele havia feito um contrato de trabalho com Francisco Lucas de Barros. O contrato seria para garantir a permanência do trabalhador em suas funções, mas, na verdade, era um tipo de autorização de posse de propriedade assinado pelo trabalhador, na maioria das vezes sem nem saber o que estava assinando. 

O Coronel Francisco Lucas vendeu a posse de Eduardo Capistrano ao Major Eduardo Soares de Carvalho, proprietário da Usina de Açúcar São Miguel, em Cuiabá. Agora, como proprietário do trabalhador, o Major Eduardo lhe enviou a seguinte carta*:

“São Miguel, 19 de fevereiro de 1918. 
Ilmo, Sr. Eduardo Capistrano da Roza. 
Tendo o Sr. Francisco Lucas de Barros me transferido o seu contracto com elle e como no contracto Vmce. está em falta da 1ª cláusula em que Vmc. devia ter dado por conta do seu débito a metade do total, é o motivo porque de rijo-lhe esta para convidar-lhe a dar uma chegada até aqui a nossa caza para acertar qualquer cousa a respeito. 
Actualmente, estou fazendo contracto com diversos amigos para o plantio de canna para me vender, pagando eu 10$000 (dez mil réis) o carro de 100 arrobas cortada para mim receber no canavial. – É este um excellente negócio para quem quer ganhar dinheiro, e, portanto se Vmce. quizer poderá aproveitar a opportunidade. Como camarada, não lhe quero porque sua dívida é muito grande e nunca poderá pagar-me.
Esperando que Vmce. não se negará a dar uma chegada já em nossa caza, assigno como
Seu  Amº. Obrº. 
Eduardo de Carvalho”. 

*A Carta foi transcrita no formato original da época. 

Depois de receber essa carta, o trabalhador Eduardo Capistrano foi orientado a jamais ir até a casa do Major Eduardo de Carvalho, pois seria uma armadilha para prendê-lo e o obrigá-lo a trabalhar até pagar sua dívida, coisa que o próprio Major disse que seria impossível do trabalhador conseguir fazer. 

Um dos jornais da época, A CRUZ, relatou essa história e denunciou o fato às autoridades do estado. O certo é que Eduardo Capistrano nunca compareceu na usina do Major e desapareceu da capital. 

A escravidão no interior dos seringais do Mato Grosso se estendeu até por volta de 1930, quando aconteceu a queda da República Velha e subiu ao poder Getúlio Vargas com o Governo Provisório.

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